Pr. Fabrício Tostes

sábado, 1 de dezembro de 2012

O Papel das Mulheres no Livro de Juízes


Muito interessante este estudo. Vale a pena dar uma lida...

Fiquem com Deus!

O Papel das Mulheres no Livro de Juízes




Hoje vamos estudar o livro de Juízes e acho importante entender o contexto de um livro antes de começar a estudá-lo. Por isso, antes de mais nada, gostaria de mostrar como Juízes se encaixa na história de Israel.
Gênesis - todos conhecem o cativeiro do Egito iniciado no final do livro de Gênesis.
Êxodo - os israelitas deixam o Egito e Deus lhes dá os 10 Mandamentos.
Levítico trata dos pormenores da Lei.
Em Números espera-se que os israelitas entrem na terra prometida e tomem posse dela, mas eles ficam amedrontados devido ao relato de 10 espias e não confiam em Deus; por isso, Deus os manda para o deserto até que todos os adultos pereçam, exceto Josué e Calebe.
Em Deuteronômio Deus leva os israelitas de volta ao Monte Sinai, confirma Sua Aliança com eles e promete abençoá-los se eles O seguirem, e amaldiçoá-los se O deixarem.
No livro de Josué eles iniciam a conquista da terra prometida. Josué conduz a nação até o final de sua vida, e é aí que começa o livro de Juízes - com a morte de Josué.


Precisamos entender que o povo não foi capaz de tomar posse integral da terra prometida sob a liderança de Josué, mesmo após a sua morte. Por que será?


Juízes 1:19 dá os motivos para tal sob a perspectiva dos israelitas.


"Esteve o SENHOR com Judá, e este despovoou as montanhas; porém não expulsou os moradores do vale, porquanto tinham carros de ferro.”


Será que esta foi a verdadeira razão pela qual os israelitas não conseguiram expulsar seus inimigos? Será que carros de ferro impediram Deus de lançar os egípcios no Mar Vermelho? O restante dos capítulos 1 e 2 contam como Israel fracassou em sua missão.


Em Juízes 2:2-3 e 20-23 o fracasso dos israelitas é mostrado sob a perspectiva de Deus.


"Subiu o Anjo do SENHOR de Gilgal a Boquim e disse: Do Egito vos fiz subir e vos trouxe à terra que, sob juramento, havia prometido a vossos pais. Eu disse: nunca invalidarei a minha aliança convosco. Vós, porém, não fareis aliança com os moradores desta terra; antes, derribareis os seus altares; contudo, não obedecestes à minha voz. Que é isso que fizestes? Pelo que também eu disse: não os expulsarei de diante de vós; antes, vos serão por adversários, e os seus deuses vos serão laços.”


Portanto, vemos que as verdadeiras razões para o fracasso de Israel foram desobediência e falta de fé em Deus.


Juízes 3:5-6 resume como os israelitas se saíram no teste.


"Habitando, pois, os filhos de Israel no meio dos cananeus, dos heteus, e amorreus, e ferezeus, e heveus, e jebuseus, tomaram de suas filhas para si por mulheres e deram as suas próprias aos filhos deles; e rendiam culto a seus deuses.”


Princípio: Quem anda com más companhias certamente pegará seus maus costumes.
Sumário


Assim, Juízes fala sobre a convivência das tribos de Israel com seus inimigos e sobre a opressão exercida por estes, um após outro. Quando as coisas ficavam realmente ruins, Deus levantava um juiz que conduzia uma campanha militar e derrotava um determinado inimigo, havendo paz durante alguns anos. E aí o ciclo recomeçava. Basicamente, vemos seis desses ciclos ao longo do livro. A cada um deles as coisas ficavam um pouco pior. Era como descer uma escada em espiral.
Abordando Juízes Como Literatura


Geralmente abrimos a Bíblia para procurar proposições teológicas ou estudar algum personagem, como Elias, José ou Gideão, e ignoramos suas partes históricas ou narrativas. No entanto, podemos aprender muitas coisas dessas partes. Uma coisa bastante útil é examiná-la como obra literária, não apenas como um livro repleto de afirmações teológicas. Com certeza a leitura se tornará mais agradável e, mais importante, nos ajudará a descobrir quais pontos o autor está tentando ressaltar.


Um dos aspectos literários que devemos procurar é a repetição de frases. Veremos isso em Juízes. Outra coisa é analisar como o autor lida com o papel dos personagens. Creio que um estudo desses homens e mulheres irá nos mostrar coisas muito importantes. Creio também que o livro revele (de forma negativa) a importância de uma liderança competente para o povo de Deus. Embora vários juízes ou líderes tenham sido levantados por Deus para obterem vitórias militares, muitos fracassaram lamentavelmente em outros aspectos. A despeito de seu sucesso militar, o clima espiritual de Israel se tornava cada vez pior, enquanto violência e anarquia assolavam o país. Os últimos capítulos do livro incluem uma sórdida narrativa de idolatria, estupro coletivo, guerra civil e seqüestro. As palavras finais são bastante sombrias: "Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto." (21:25; 17:6; 18:1; 19:1). Este cenário prepara o terreno para a ascensão de Samuel e Davi, por meio dos quais Deus restauraria a imagem da fidelidade pactual e da ordem social de Israel.


Não é possível ler Juízes sem perceber que as mulheres aparecem em vários pontos estratégicos da narrativa. Elas assumem uma variedade de papéis: de heroínas e sedutoras a vítimas inocentes. A alteração de seus papéis ao longo do livro contribui amplamente para o retrato da desintegração social de Israel, a qual atinge seu ponto máximo em I Samuel 1, com a figura oprimida de Ana, por meio de quem o Senhor reverte a decadência descrita em Juízes e retoma a liderança ideal apresentada no início do livro.


Nosso estudo analisará a relação entre os personagens masculinos e femininos do livro e procurará explicar:
como a alteração dos papéis femininos é o fator-chave para uma avaliação mais abrangente da liderança masculina de Israel durante esse período.
como a história de duas dessas mulheres estabelece, de forma singular, o cenário para o aparecimento de Ana.


Dividi o livro em algumas seções. Uma das coisas que me ajudou a fazer essa divisão foi a repetição da frase "Os filhos de Israel fizeram o que era mau perante o SENHOR...", que antecede:
3:7 - a apresentação de Otoniel
3:12 - a apresentação de Eúde
4:1 - a história de Débora e Baraque
6:1 - a história de Gideão
10:6 - a apresentação de Jefté
13:1 - a história de Sansão


Ocorre ainda que, se dividirmos o livro de acordo com o papel desempenhado pelas mulheres, as divisões praticamente coincidem com as frases introdutórias:
1-3 - Guerreiro conquista esposa e pai abençoa a filha
4-5 - Mulher corajosa atrai soldado inimigo para a morte
6-9 - Uma mulher livra Israel das mãos de inimigo com sede de poder
10-12 - Soldado israelita vence batalha, mas traz maldição sobre sua filha
13-16 - Mulher inimiga atrai soldado israelita para a morte
17-21 - Mulheres israelitas são oprimidas por seus conterrâneos
Guerreiro conquista esposa e pai abençoa a filha (Juízes 1-3)


Na primeira parte do capítulo um vemos que Josué morre e que os israelitas continuam a tomar posse da terra prometida. No final do capítulo três lemos sobre as façanhas de Otoniel, Eúde e Sangar. Estes juízes corajosamente libertaram Israel da opressão de seus inimigos. Embora suas histórias sejam breves, o autor retrata homens de coragem e ousadia militar.


Vamos estudá-los com mais detalhes.
Otoniel


Otoniel aparece pela primeira vez em 1:13, quando toma parte numa campanha militar liderada por Calebe.


Em 1:13 ele é mostrado como um guerreiro divinamente capacitado, cuja eficiência militar é quase prosaica. Quando Calebe oferece sua filha àquele que capturar Quiriate-Sefer, o verso 13 simplesmente diz: "Tomou-a, pois, Otniel...”


O verso 1:14 da sua Bíblia provavelmente diz que Acsa persuade Otoniel a pedir um campo ao pai dela; mas esta não é uma boa tradução do hebraico. A expressão "a ele" não está no original. A NVI chega a traduzir como "ela foi até Otoniel". Os tradutores tomaram muita liberdade com o texto, como não costumam fazer.


A tradução mais apropriada seria "Sucedeu, então, que vindo ela, persuadiu-o (seu pai) pedindo-lhe um campo." (Primeiro está escrito o que vai acontecer e só depois vem a ação...) "e ela apeou do jumento; então, Calebe lhe perguntou: Que desejas?”


Estou gastando tempo na correção desta tradução porque acho importante entender que Otoniel não é nenhum fraco ou ganancioso, que está pedindo uma esmola a seu sogro. Pelo contrário, Acsa é quem pede o dote ao pai dela.


E é aqui que quero mostrar a primeira divisão do livro, que acentua o caráter guerreiro de Otoniel e a bênção de um pai para sua filha.
A Bênção Paterna


Pode parecer, a princípio, que Calebe não está tratando muito bem sua filha, por oferecê-la como prêmio por bravura. Contudo, precisamos reconhecer que seu desafio aos soldados israelitas garantiria que ela se casasse com um homem forte e corajoso, o qual, sem dúvida, seria o líder e provedor de sua família. Creio também poder concluir que, se este guerreiro tomou uma cidade, foi porque tem tinha fé em Deus. Esta sempre foi a única maneira dos israelitas vencerem uma batalha. Assim, eram boas as chances de Calebe estar providenciando um homem de Deus para Acsa. Por isso, concluo que ele encontrou um bom marido para ela.


O presente de Calebe também ilustra o cuidado protetor que os pais devem ter para com suas esposas e filhas.


Digo isto porque, mais adiante, veremos um pai que faz uma promessa semelhante, mas com trágicas conseqüências para sua filha (10-12:7). Também veremos que a decadência moral dos homens de Israel chega a ponto de eles afligirem suas próprias mulheres e não cuidarem delas.


Acsa é um belo exemplo de donzela conquistada por bravura. Seu papel fará um contrate muito grande com o papel das mulheres do final do livro. É como num filme do Rei Arthur. No entanto, esta história foi escrita muito tempo antes dos Cavaleiros da Távola Redonda. Quando assistir a um filme do Rei Arthur novamente, você dirá: "Ei, é como na história da Bíblia.”


Assim, temos um guerreiro exemplar, líder corajoso, e uma mulher que se beneficia de sua liderança.
O Líder Ideal


Primeiramente, gostaria de dizer que não há muitas coisas escritas sobre Otoniel. Mas isto é normal quando se deseja retratar alguém como modelo ou exemplo para outras pessoas. O autor não quer que saibamos tudo a respeito do personagem, principalmente seus defeitos e fraquezas. Ele é um personagem-modelo.


Para o autor de Juízes, Otoniel representa o guerreiro ideal, que segue os passos de Josué, derrota corajosamente o inimigo e toma posse da terra que Deus deu a Seu povo.


Após lermos sobre Otoniel no capítulo 1, vemos que o trabalho feito pelos israelitas para se livrarem de seus inimigos foi lamentável.


Em 3:7-11 leremos mais sobre suas façanhas, quando ele derrotar Cusã-Risataim. Repito, não há muita coisa escrita sobre ele ou sobre como derrotou o inimigo. Simplesmente está escrito que ele libertou a nação. Infelizmente, nenhum guerreiro israelita chegaria ao padrão estabelecido por Otoniel até Davi emergir centenas de anos depois.
Eúde 3:12-30


A história de Eúde é uma narrativa sangrenta de como um guerreiro valente e sagaz ludibria seu inimigo. Para nós, a história poderia ser repulsiva, mas, para o público israelita, ela é cômica e inspiradora. Eúde é outro exemplo de guerreiro valente que confia em Deus (cf. 3:28) e derrota um dos inimigos da nação.
Sangar 3:31


Pouco é dito sobre Sangar, por isso, não podemos tirar muitas conclusões a seu respeito. No entanto, uma vez que ele está relacionado com Otoniel e Eúde, creio que pode ser visto sob uma luz favorável.


Em resumo, os três primeiros capítulos de Juízes, embora não sejam totalmente positivos em sua avaliação do início da história de Israel, mostram um quadro razoavelmente bom de seus heróis e de uma mulher que inspira grandes feitos e é abençoada por seu pai.
Mulher corajosa atrai soldado inimigo para a morte (Juízes 4-5)


Antes de mais nada percebemos que, nessa época, Israel é liderado por uma mulher. Isto poderia levantar uma pergunta entre os leitores: o que faz uma mulher na liderança da nação? As coisas deviam estar bem ruins. E estavam. Não havia homens corajosos o suficiente para liderar. Veja a resposta de Baraque à ordem de Débora no verso 8: "Se fores comigo, irei; porém, se não fores comigo, não irei." Ele parece uma criancinha conversando com sua mãe. A resposta de Débora no verso 9 demonstra que a atitude de Baraque era totalmente descabida. A honra pela vitória não seria dele, mas de uma mulher.


Vemos que Baraque realmente derrota o inimigo, mas Sísera, o comandante do exército do rei Jabim, escapa e busca abrigo na tenda de um aliado. Aqui Jael entra na história. A despeito da lealdade de seu marido a Sísera, ela é leal a Israel. Por isso, convida Sísera a entrar em sua tenda, dá leite a ele e coloca-o na cama, pois ele está exausto por ter fugido o dia todo; depois, enquanto ele está dormindo, ela crava uma estaca em sua cabeça.


No capítulo 5 há uma extensa canção de celebração. Nessa canção, Jael recebe louvor especial por ter derrotado Sísera. A canção poderia ter sido em honra a Baraque.


Ainda no capítulo 5, a partir do verso 28, ficamos conhecendo a mãe de Sísera. Ela está olhando pela janela, à espera de seu filho. Ela presume que ele esteja demorando porque derrotou o inimigo e está raptando uma mulher ou duas. A ironia é que ele está sendo morto por uma mulher.


O que aprendemos desta história?
Baraque desfruta o sucesso, mas não demonstra a coragem de seus predecessores. Ele pediu apoio militar a uma mulher.
As palavras de Débora são cumpridas: uma mulher recebe a honra pela morte de Sísera.
O papel de guerreiro ideal apresentado no capítulo 3 é desempenhado por uma mulher. Jael é corajosa, toma decisões importantes e sua bravura nos faz lembrar de Eúde, o matador solitário que se valeu de um engodo para dar cabo de um inimigo sem que ninguém percebesse (3:12-30).
Como Sangar, ela usa uma arma incomum. Ele usou uma aguilhada de bois. Ela, uma estaca de sua tenda.
Como Sangar, ela não faz parte do povo de Israel.


No final dessa história, vemos que Israel dá um passo atrás em termos de liderança masculina. Felizmente, duas mulheres se mostram à altura da situação, para compensar a fraqueza dos homens.
Uma mulher livra Israel das mãos de inimigo com sede de poder (Juízes 6-9)


Em seguida temos a história de Gideão. Quase todos nós já ouvimos falar sobre ele. Ele é muito conhecido por ter derrotado o exército midianita com apenas 300 homens.


No entanto, Gideão é um pouco confuso. Ele é cheio de dúvidas e de medos. Ao longo de sua história ele questiona a Deus e O coloca à prova. (O teste com o novelo de lã é famoso.) Mas Deus é paciente com ele e o usa para destruir o inimigo. Sua história nos encoraja e nos dá esperança de que Deus também nos use, a despeito de nossas dúvidas e fraquezas.


Mas eu gostaria de examinar a vida de Gideão da maneira como estamos estudando até agora: sob o ponto de vista do declínio da liderança masculina de Israel.
Como Baraque, Gideão também hesita ao ser chamado para entrar em ação. Se Baraque responde a Débora com um “Se..." Em 6:17, Gideão responde com um "SE” gigante. O mesmo acontece em 6:36. Não é de se estranhar que, em 7:10, Deus lhe diga: "Se ainda temes atacar, desce tu com teu moço Pura ao arraial...”
Quando o povo pede que ele se torne rei, ele não aceita, e acho que isso foi uma coisa positiva. Contudo, em 8:27, sua atitude muda completamente e ele faz uma estola sacerdotal. Essa estola era uma espécie de manto usado pelo sumo-sacerdote, da qual pendia um saquinho com o Urim e o Tumim, utilizados para determinar a vontade de Deus. A estola de Gideão é utilizada, então, na prática ilegal de adivinhação, ou seja, transforma-se em objeto de idolatria. Por isso, ele contribui para o declínio espiritual da nação.
Gideão teve muitas esposas e uma concubina, as quais lhe deram 70 filhos e um outro de nome Abimeleque. A família tem muitas brigas e Abimeleque acaba matando todos os seus irmãos e investindo a si mesmo no poder. Ele, na verdade, não tem nenhum direito à herança, pois sua mãe é uma concubina. Por isso, ele vai aterrorizar o interior do país.


A esta altura dos acontecimentos, mais uma mulher de importância entra na história. Quando Abimeleque está em Tebes, uma mulher atira uma pedra de moinho em sua cabeça (9:53). O texto deixa claro que foi ela mesma quem "atirou" a pedra, o que sugere um ato heróico de grande esforço e a coloca no papel de guerreiro.


Minha pergunta é: "Se todos os homens e mulheres da cidade estavam na torre, por que uma mulher é quem toma a iniciativa de matar Abimeleque?" Acho que isso demonstra que os homens eram uns molengas. Eles não tinham iniciativa. Por isso, na história da morte de Abimeleque, uma vez mais uma mulher salva Israel (ironicamente, novamente com um golpe fatal na cabeça usando uma arma incomum, cf. 5:26 com 9:53). Só que, desta vez, o inimigo é um israelita. Gooding escreve:


"As coisas realmente se agravaram quando a sujeição de Israel passou a ser a alguém de seu próprio povo, o qual, em vez de libertar a nação, instalou a si mesmo como ditador, mantendo o poder pela força.”


Por isso, o que vimos até aqui é uma mudança no papel das mulheres: de musa inspiradora de bravos guerreiros a libertadora de Israel da opressão de um de seus próprios cidadãos.


Vemos que a liderança de Israel está se desintegrando. Otoniel, Eúde e Sangar foram guerreiros sábios e corajosos. Baraque já não foi tão corajoso. Gideão não foi nem tão corajoso nem tão sábio. Agora, veremos outro líder que também não foi tão corajoso e ainda foi muito tolo.
Soldado israelita vence batalha, mas traz maldição sobre sua filha (Juízes 10-12)


Temos nossa frase introdutória em 10:6 e depois, em 11:1, Jefté é apresentado. Logo no início ficamos sabendo que ele é um "guerreiro valente", mas filho de uma prostituta. Nesse sentido, ele é parecido com Abimeleque.


Os meios-irmãos de Jefté, filhos legítimos de seu pai, expulsam-no da cidade e ele começa a associar-se a "homens levianos". Assim, aprendendo a sobreviver e a defender-se "nas ruas", ele fica mais forte. Quando as coisas realmente ficam feias para Israel, os anciãos pedem que ele volte, concordando em deixá-lo conduzir a nação, caso ele os ajude.


Em 11:29, vemos que o Espírito de Deus vem em seu auxílio, mas ele não confia em Deus como deveria e acaba fazendo uma promessa muito precipitada. Da mesma forma que Baraque e Gideão, ele usa um grande "SE” antes da batalha. A expressão exata de seu voto indica que ele pretende oferecer um sacrifício humano, não animal, mas espera que seja alguém do sexo masculino. (Podemos tirar esta conclusão por ele ter usado um termo masculino.) Ele tem somente um descendente, uma filha, por isso, provavelmente, estava pensando em algum servo.


Fica comprovado que o voto foi tolo e precipitado, pois, ao retornar para casa, vitorioso, a primeira pessoa que ele encontra é sua filha. Creio que ele manteve seu voto e a sacrificou. Não há nenhuma razão para pensarmos que ele a tenha enviado para o templo para uma vida de serviço a Deus. O tributo prestado a ela todos os anos (11:40) parece mais viável no caso de ela estar morta, não viva.


Em contraste com Calebe, que trouxe bênção para sua filha, a loucura de Jefté trouxe maldição para a sua.


Finalmente, em 12:4, vemos que Jefté se envolve numa guerra civil contra os efraimitas. Em contraste com Eúde, que toma os vaus do Jordão contra o exército gentio, Jefté luta contra seus compatriotas israelitas.


Uma vez mais a crise na liderança de Israel é evidente. A inversão de papéis das principais personagens femininas chama a atenção para esse fato. Agora, uma mulher torna-se vítima da falta de fé e sabedoria de seu próprio pai.
Mulher inimiga atrai soldado israelita para a morte (Juízes 13-16)


A seguir, temos a história de Sansão. Ele parece ter todas as qualidades necessárias a um grande líder.
Sua concepção é sobrenatural, indicando que Deus tem um propósito especial para ele.
Como Otoniel, ele é divinamente capacitado, é destemido e não hesita em atacar os inimigos do Senhor.
Como Eúde, ele é esperto. Ama enigmas.
Como Sangar, é capaz de matar centenas de inimigos, mesmo com uma arma incomum. Se bem me lembro, a arma escolhida foi uma queixada de jumento. Creio que o uso de armas não convencionais ao longo do livro de Juízes demonstra que é Deus quem dá a vitória.


Entretanto, não precisamos ir muito longe para ver a fraqueza de Sansão pelas mulheres. Ele se casa com uma mulher de Timna. Está escrito que Deus aprovou o casamento (14:4). Isto tanto pode significar que Deus tenha colocado o desejo no coração de Sansão, quanto pode indicar que este desejo seria utilizado por Deus, sem aprovação do casamento. Sansão também se envolve com uma prostituta em Gaza e com Dalila, outra prostituta filistéia que veio a ser sua ruína.


Em 14:2 está escrito que Sansão "viu" uma mulher em Timna (14:2) e, em 16:2, que “viu" uma prostituta em Gaza. Isto soa um tanto irônico, pois, quando ele é capturado pelos filisteus, estes vazam seus olhos, e assim ele não poderá “ver" mais nenhuma mulher.


Uma vez que estamos analisando Juízes como história, precisamos reconhecer que, em contraste com Jael, que atraiu um general inimigo para a morte, Dalila, uma inimiga, atrai para a morte o maior de todos os guerreiros de Israel. Sansão agora está no papel de Sísera. Deus permite que ele se vingue, mas ele também acaba morrendo.


A morte de Sansão no templo filisteu torna completo o ciclo descendente da liderança de Israel. A falta de fé abriu caminho para a falta de sabedoria. Nenhum outro líder individual aparece no livro. Os capítulos finais descrevem um período de anarquia que supera a desordem provocada anteriormente por Abimeleque.
Mulheres israelitas são oprimidas por seus conterrâneos (Juízes 17-21)


Sem liderança espiritual efetiva, o povo de Israel (como todos os seres humanos), com sua propensão à rebeldia, abandona o Senhor. A idolatria e a guerra civil tomam conta da nação.


Nesta seção do livro as mulheres desempenham papéis importantes como vítimas de sua época. No capítulo 19, um levita, viajando com sua concubina (concubina? perguntaria o leitor), decide ser mais seguro passar a noite em território israelita do que em território jebuseu. Novamente, mais ironia. Ele estava errado. Teria sido mais seguro permanecer em território jebuseu. Um grupo de israelitas vai ao lugar onde ele está hospedado, a fim de ter relações sexuais com ele. (O paralelo com Sodoma e Gomorra deve ser óbvio.) Ele manda a concubina em seu lugar e eles abusam dela a noite toda, deixando-a à beira da morte.


Quando o levita pede aos benjamitas que lhe entreguem os criminosos, eles se recusam. Por isso, ele divide o corpo da mulher morta em 12 partes e envia os pedaços às demais tribos de Israel, pedindo seu auxílio; e a guerra civil explode. Os benjamitas são quase exterminados. Cidades, mulheres e crianças são destruídas e somente 600 homens conseguem escapar. A fim de que a tribo não seja extinta, as outras tribos destroem a cidade de Jabes-Gileade, que não tinha tomado parte na guerra civil, providenciando desta forma 400 jovens virgens para os benjamitas sobreviventes. Para completar o número de jovens necessárias, as tribos enviam os benjamitas a Siló para que raptem mais 200 mulheres durante a festa da colheita.


É irônico e deplorável que a nação tenha chegado tão baixo. Embora os israelitas supostamente tenham abominado a atitude dos benjamitas em relação à concubina do levita, eles acabaram fazendo a mesma coisa, só que em escala maciça.
Sumário


O declínio moral de Israel está completo. No começo do livro, as mulheres inspiravam os homens a grandes feitos; depois, passaram a desempenhar o papel de libertadoras - primeiro de inimigos externos e então de inimigos internos. Agora são violentadas, raptadas e massacradas por seus próprios compatriotas. Compare o final do livro com a história de Sísera. No início, a ameaça vinha de fora. Se fossem os homens de Sísera que tivessem vencido a batalha, seriam eles que violentariam as mulheres israelitas. Agora, no entanto, vemos que o declínio na liderança masculina é tão grande que são os próprios israelitas que afligem suas próprias mulheres.
Aplicação


Como tudo isto se aplica a nós?
Creio que as coisas que vimos nos mostram como é importante ter fé em Deus e iniciativa para agir. Lembramos de Otoniel, que era forte na fé, em contraste com Gideão e Baraque, que não eram.
Também vimos que Deus pode usar homens que são fracos na fé (Gideão).
Uma das mensagens de Juízes é que uma só pessoa pode fazer toda a diferença. A Bíblia tem muita gente, mas há vezes em que Deus usa pessoas individuais para realizar Sua vontade.
A questão da liderança masculina talvez seja o ponto principal do livro.


Com freqüência as pessoas usam o livro de Juízes para provar que liderança feminina é bíblica. No entanto, creio que estas histórias mostram que os homens eram fracos e não estavam fazendo o que deveriam. Débora, Jael e a mulher que matou Abimeleque foram grandes mulheres. Não consigo encontrar nelas nenhum defeito. Contudo, tudo o vimos demonstra que aquela era uma sociedade decadente. Quando surgem oportunidades para a liderança feminina, na verdade, é sinal de que alguma coisa está errada.


Liderança masculina também é um grande problema em nossos dias. Para muitas pessoas é quase um palavrão. Alguns poucos cristãos conservadores, "duros na queda", ainda concordam com ela, mas não muitos. Não é politicamente correta. No entanto, podemos ver que este é um problema comum em toda a Bíblia.


Tudo começou com Adão. Ele não exercia sua liderança quando comeu o fruto. Ele seguia o exemplo de Eva. Sei que a maioria de nós já ouviu a explicação de Gênesis 3:16 sobre o desejo da mulher de governar sobre o seu marido, mas que Deus queria que a liderança fosse do homem. A inclinação natural do homem é esquivar-se e deixar de tomar a iniciativa. Deus fez-nos assim para que a única maneira de sermos bem sucedidos como líderes seja andando pela fé e confiando Nele para nos segurar quando cairmos ou falharmos. E nós cairemos. Tomaremos decisões erradas. E esta é a razão pela qual não queremos assumir a liderança. Temos medo. Quando os homens falham nesse sentido, geralmente as mulheres interferem e fazem o que é preciso. Normalmente elas também fazem um bom trabalho, mas este não é o ideal de Deus, e o resultado final é a ruína.


Qual é a maior razão para não assumirmos a liderança? - O medo - medo do fracasso. Pense em todas as passagens de Juízes onde o herói disse: "Se..." (Baraque, Gideão, Jefté...) Eles tinham medo do fracasso.


Creio que um dos pontos principais do livro seja que os homens precisam tomar a iniciativa e ser líderes. Um dos sinais de uma sociedade decadente é a falta de liderança masculina. Os homens precisam ter fé em Deus e agir com sabedoria. Quando eles não lideram, existe uma grande probabilidade das mulheres interferirem. Elas farão um bom trabalho, mas não conseguirão remar contra a maré e, no final, a sociedade descerá a ladeira tão depressa que se tornará vítima de todos os tipos de atrocidades.


Será que isto tem algo a ver com a nossa sociedade? Creio que nos aproximamos rapidamente de um período tal como este que acabamos de ler.


Para ler mais sobre este assunto, dê uma olhada no estudo "Por que os Homem Não Falam".
Preparando o Caminho para Ana e Samuel


Juízes não é um livro do mais agradáveis. Se alguém fizesse um filme minucioso sobre ele, a classificação teria que ser "R" ("restricted": proibido para menores de 18 anos), devido à violência e à perversão sexual. Todavia, Juízes foi colocado na Bíblia com um propósito. Ele nos mostra como as coisas ruins entraram em Israel antes da chegada de Davi. Vamos dar mais uma olhada no gráfico do Velho Testamento, que mostra como Juízes se encaixa na história de Israel.





Embora tenhamos traçado o declínio da sociedade israelita de acordo com o papel desempenhado pelas mulheres, o autor de Juízes também começou a elaborar um outro tema para apresentar a seus leitores. A pista está numa frase que aparece no início de cada seção: "Havia um (certo) homem de...”


Esta frase é apenas encontrada em Juízes (duas vezes), Rute (uma vez) e I e II Samuel. Acho que é esta uma boa pista de que foi Samuel quem escreveu Juízes e Rute também.


Há ainda outras duas mulheres sobre as quais não falamos: a mãe de Sansão e a mãe de Mica. Elas não se encaixam no cenário anterior, mas desempenham um papel importante no desenrolar do outro tema. Estas senhoras servem como realce na história para a introdução de Ana e seu filho.


Juízes 13:2 diz: "Havia um homem de Zorá...", cuja esposa era estéril e o Anjo do Senhor apareceu a ela e lhe disse que ela teria um filho a quem dedicaria ao serviço do Senhor, e ela teve Sansão. Como vimos, Sansão foi um grande guerreiro, mas não um grande líder. Sua vida foi um desastre. Por isso, a história da mãe de Sansão serve para realçar a história de Ana, apresentada em I Samuel.


Juízes 17:1 diz: "Havia um homem da região montanhosa...” Outra mãe é apresentada. A história da mãe de Mica também serve como realce para a história de Ana. Quando Mica admite ter roubado os 1100 ciclos de prata, sua mãe o abençoa (quando deveria tê-lo repreendido). Ela consagra ao Senhor o dinheiro devolvido e incumbe o filho de manter uma imagem de escultura e um ídolo de fundição feitos com parte da prata. Este ídolo acaba sendo usado pelos danitas para estabelecer o culto religioso em Laís (18:30-31). Uma vez mais vemos um personagem induzindo a nação em erro.


Rute 1:1 diz: “Nos dias em que julgavam os juízes, houve fome na terra; e um homem de Belém de Judá saiu a habitar na terra de Moabe..." Esta frase é semelhante às frases encontradas em Juízes e o autor está prestes a nos apresentar Rute, a heroína da história. Novamente temos uma mulher como personagem de destaque. Rute se sobressai como uma luz resplandecente em meio às trevas do período dos juízes. Ela é exemplo de fidelidade, amor e lealdade - ideal de Deus para aqueles que são Seus. No entanto, quem cumpre esse ideal é uma mulher de fora, que não faz parte do povo de Deus.


Então, chegamos a I Samuel.


I Samuel 1:1 diz: "Houve um homem de Ramataim-Zofim...”


Ana é apresentada. Ela é estéril como a mãe de Sansão. Ela ora a Deus pedindo um filho e faz um voto de que o dedicará ao serviço do Senhor. Vemos que ela promete que jamais uma navalha passará sobre a cabeça dele. A frase introdutória "Houve um homem de...” deve relembrar ao leitor que isto se refere à história de Sansão. Com certeza, o voto sobre o cabelo também. Deus ouve a oração de Ana, Samuel nasce e ela o dedica ao Senhor. No capítulo 10, Deus usa Samuel para constituir um rei em Israel. Você deve se lembrar que o último comentário de Juízes foi: "Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto." Deus muda essa situação em I Samuel. Esta é outra pista literária de que o livro de Juízes nos prepara para a chegada do rei Davi.
Assim, parece claro para mim que Juízes, Rute e Samuel foram escritos pelo mesmo autor. Em Juízes, ele mostra o declínio da nação. Em Rute, que é uma mulher estrangeira que exemplifica a fidelidade do amor de Deus. E depois, em I Samuel, a ascensão da nação de volta à grandeza pela liderança de Davi. A história de Davi e Golias faz-nos relembrar a história dos primeiros juízes - Otoniel, Eúde e Sangar. Davi também não usou uma arma incomum na luta contra o gigante Golias?


Fico impressionado com a seqüência dos livros de Juízes, Rute e I Samuel, e com a habilidade do autor em fazer a ligação entre eles.


Mas não devemos ficar apenas impressionados. Os homens devem se convencer de sua responsabilidade de confiar em Deus e tomar a liderança. E as mulheres, da futilidade de interferir e tomar as rédeas quando os homens não assumem seu papel.






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